Que calor! Que desenfreado calor!*
Quando acordo, já me checo
Quando banho, já me espero
Quando saio, já me aflijo
Quando volto, já me seco.
Desde criança é assim, as gotículas
saem de mim.
Levam-me de tudo, até o que ainda
está por vir.
Roupas descartáveis não param de
surgir. Não me abstive
Afinal, também faço parte disso
tudo.
Sem saber o que me acometia, segui.
Retraído, sim, mas em frente.
As informações em profusão elucidam
as minhas aspirações.
Agora, depois de consulta nas
Clínicas, uma lista de espera.
À espera duma forma seca de seguir.
Suo como vivo; sem querer.
É como quando fui ao banco, na fila,
nem tão grande, no ar- condicionado, na conta em minha mão direita,
na fila andando, na ilusão de estar sendo fitado, nos primeiros
pingos.
Ensopado, debaixo dos braços, o
direito mais. Uma leva a outra e em instantes bolhas de água cobrem
meu rosto.
Abano-me.
O ar está gelado e todos me olhando,
olho pro chão, olho pra frente, olho pro guarda, olho pros lados.
Vergonha.
Quero sair dali, correndo. Mas, A
Conta.
Abano-me mais rápido.
Quem entra já me vê brilhando.
Quero correr! Não posso. A conta.
Caio. Levo a mão à testa e caio.
Finjo um desmaio – pressão alta,
talvez? – disfarçará tudo.
Acudam! Acudam!
Sentado num sofá de couro, Água
servida pelo gerente, Conta paga pelo segurança e _ Tô melhor,
obrigado.
Saio do banco e só são onze horas da
manhã.
Desde que acordei, só quatro horas se
passaram.
Continuarei esperando a lista. Preciso
continuar pagando a conta. Insisto em continuar vivendo.
Derretendo-me pela vida.
Quero me isolar para ninguém me ver.
Tenho hiperidrose, e não tenho culpa
disso.
Tento em vão expelir as pessoas, mas
o termo é sempre o contrário.
Desperto indagações. Não
necessariamente gostam de mim, mas ao intrigá-las, atraio-as para
alguma forma de desvendamento.
Esperando a fila do Hospital das
Clínicas:
Ando, Caio. Vivo, Passo. Pulo, Saio.
Me estupro, Trabalho. Me escudo e Suo.
Escondido, não sei onde vou parar.
* A invenção da Crônica –
Machado de Assis