Queria
compartilhar um ocorrido com vocês e saber suas opiniões.
Fui
transferido para outro setor e chegando lá tive aquela semana de
adaptação onde se ficam todos com o pé à trás
observando, inclusive eu.
Teve
um rapaz que tem um cargo de confiança do diretor que assim que
me viu pela primeira vez, soltou: _ Esse sim é um afrodescendente de
respeito, não igual ao que temos aqui. E apontou para outro rapaz
negro que riu, assim como eu ri.
O
que pareceu ser um quebra-gelo, foi se aprimorando e acrescido
de ódio disfarçado de brincadeira.
Todas
as vezes que esse rapaz me via soltava uma piada:
_
E aí negão;
_
Eu sou racista, viu;
_
Você está pensando que está falando com alguém da sua raça;
_Você
está sentado na mesa errada negão.
Ele
fazia isso sério e na frente de todos, inclusive de outros
funcionários da raça negra. O que me despertou que aquilo não era
brincadeira é porque quando ele pegava pesado, sempre me ligava de
forma educada e me chamando pelo nome, como que para soprar depois do
tapa.
Um
dia eu não aguentei e, temendo perder o controle e razão, o chamei
bem educadamente para sala de reunião e pedi permissão para gravar
a conversa, ele se assustou e disse que não, eu disse que gravaria
do mesmo jeito e que ele poderia sair da sala se quisesse, como ele
não saiu comecei a falar.
Eu:
_ Olha, eu estou me sentindo incomodado com suas brincadeiras a
respeito de raça. E não é só por mim. Quando você faz isso, não
olha para os lados e nem vê que o pessoal da limpeza, o da cozinha,
e motoristas, estão todos por perto e como eu tenho um cargo
equivalente ao seu e sei que eles nunca viriam aqui para falar com
você, eu me sinto na obrigação de fazer isso.
Ele:_
Eu sei. A gente brinca com quem dá abertura, mas se você não quer
eu não brinco mais. Só acho que não deveria chegar a esse pinto de
você me chamar aqui e gravar. (levantou-se e já ia saindo da sala)
Eu:
_ Só um minuto que eu ainda não acabei de falar.
(ele
se assustou com a assertividade do meu tom e voltou)
Eu:_
Essa é a última vez que estou falando com você sobre isso, da próxima abrirei um boletim de ocorrência e entrarei com petição
para que seja instaurada uma sindicância.
(ele
ficou nervoso, saiu falando alto; mas eu continuei calmo com a voz
branda e disse: _ estamos acertados, não é. E dei um sorriso)
Bem,
nossa relação agora está naquele fio tênue, mas não vou ficar
sendo sistematicamente ofendido e levar tudo na brincadeira para
evitar o confronto. Não seria mais fácil que as ofensas fossem
evitadas?
Até
parece que isso é feito em tom de brincadeira para quando a vítima
tomar uma atitude drástica, passe a exercer o papel de agressor.
Não
adianta achar tudo um absurdo e tentar mudar leis e cobrar
autoridades se no nosso dia a dia, no nosso ciclo de amizade, não
conseguimos reverter ou evitar injúrias.