domingo, 30 de novembro de 2014

Fernando Pessoa


Hoje, 30 de novembro, é aniversário de morte do meu herói: Fernando Pessoa. Viveu sem se ver reconhecido por outrem, mas sabia-se seu valor; se não, não carregaria por quartos alugados sua arca abarrotada por seus escritos. Só depois de morto é que o mundo pôde tomar conhecimento de textos como esse:

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ganhei menção honrosa em um concurso com esse texto: O homem que dormia para não viver

O homem que dormia para não viver


Naquela manhã eu não queria acordar. Não queria ver o mundo. Quando a minha mente despertou, neguei-me a abrir os olhos. Cheio de compromissos chatos; à noite minha mãe ligaria, os bons-dias que teria de dar me massacrariam. Não, não quero abrir os olhos. Não, não vou abri-los. Passar os dias nesta cama me poupará do mundo. Mais que isto: poupará o mundo de mim.
Dormir é o mais próximo da morte que eu consigo.
Numa kitnet toda branca, numa cama conjugada forrada com uma colcha florida e clara, na tv ligada na tela azul do modo AV, nos três travesseiros com fronhas desiguais, na barba por fazer, na ressaca de beber sozinho em casa – capeta – ouvindo fitas-cassetes piratas de um novo jazz; despertaria para mais uma semana de trabalho na secretaria de uma prefeiturazinha, numa sala com mais dois colegas de trabalho, num computador com recursos limitados.
NÃO!
Não vou tentar nem abrir os olhos. A claridade me atirará para realidade, mas eu resolvi que não vou mais acordar. A fome, a dor, as necessidades, o telefone, o trabalho e os conhecidos serão resolvidos em sonho.
Num puff branco quadrado, cartas de suicidas; na tv, o azul da tecla AV continua a azular todo o quarto; sobre a cama, meu corpo estendido – pelos ouriçam, olhos vidram – só os braços se mexem.
Estico o esquerdo e cato no puff folhas de papel a4 com as cartas impressas. Leio-as lentamente como que degustasse palavras. A leitura funciona como um sonífero para mim. Escolhi as cartas de suicidas não por nada em especial, só por estarem sempre ali, à mão. Em verdade, gosto do que leva mais de uma leitura para se compreender, mas não a abro mão, mesmo que mais de duas tenha que ler.
Passei todo o domingo comendo coração de galinha para ver se algum amor entrava em mim. Mas eu bebia. Acho que o álcool cortou o efeito.
Tudo somado, os olhos de estatelados passam a lassos, o corpo já estava parado, os olhos a pestanejar, a nublação invade minh'alma. Durmo. e voo por entre árvores e bem alto. É tudo tão feérico aqui de cima. Só seres vivos – filosoficamente falando – a vida é só isso mesmo, para se existir? não vejo humano em plano aberto algum. Só verde, marrom e roxo. e o nada. Penso em nada; só voo. Braços abertos ou fechados. Nada bate em mim, não encosto em nada, não sinto nada. Sou o NADA ali. Aqui não se há noção de tempo: é tudo metafísica.
Das noites que precisava acordar, só me recordo do balançar das pernas. Um autoninar-se desconcertante.
Vou ao encontro de Aurora, vejo-a do alto guardando-me, irrompo os portais e pormenorizo meu dia. Enfatizo os corações de galinha – deixo o capeta latente, sei que ela não gosta que beba – ela diz que sente minha falta, a falta de meu abraço, ela é real eu; obnubilado.
Vou falar com Cássio, meu colega de trabalho. Ele não está, mas deixo recado, sentado, no cominho que ele o fará. ‘NÃO VOU MAIS ACORDAR, SEGUNDA SUGURA AS PONTAS LÁ!’ o Cássio é tão resmungão, irá reclamar tanto ter que acabar os relatórios circunstanciados sozinho, que quando o vejo bocejar, já o imagino iracundo a me maledizer. À sua espera, malocado, um abraço é deixado.
Na volta ao alto, converso com o tio Zécarlos, ele diz que coisas boas virão, mas que ainda não são os números da Mega que me prometera antes de partir. Pergunto o porquê, ele diz: não depende só de mim. Entendo, desentendendo. Rio-me, e voo-me.
O vento daqui é brisa, é nem frio nem quente: é como se o mar estivesse bem a nossa frente. Não resisto e canto. Baixo, claro, pois qualquer passo em falso eu caio.
Como aqui não tenho dinheiro, não pago. Mas me justifico aos credores que encontro no caminho; pelo-sim-pelo-não.
Dentro do sonho sonhei que tinha acordado, quando abri os olhos, estava em casa. Tinham se passado 27 dias e 27 noites. Acordei atordoado, e estonteado – agora como maravilhado – no espelho do meu quarto, pude ver uma marca marrom de batom em minha bochecha esquerda.
_ desde quando estás aqui?
_ desde o segundo dia, meu filho.
Minha mãe – Dona Aurora – não saiu dali de junto de mim desde que a ligação de telefone não atendera.
Não quero viver. Não gosto. Durmo muito, sinto culpa ao acordar, por ter dormido muito. Dormir é o mais próximo da morte que eu consigo sentir. Viver!
São todas sensações. Todas as sensações. Às vezes eu queria abrir os olhos e ver o que estava acontecendo, mas nem pra isso eu presto.
Posto assim aqui, isto parece até mentira.
Antes fosse.
Tudo aconteceu.

Só a mãe que não era a minha.

domingo, 23 de novembro de 2014

Eu falei que conheci o Rio?

Nas minhas férias adiantadas, pois meu Secretário achou melhor me pôr para viajar, temendo um novo atrito; eu fui conhecer o Rio.

Ainda bem que fui agora, com meu dinheiro, e não com as meninas que faziam programa em Brasília e foram no verão de 2006 ou 2007.

Fui de ônibus, chegando lá desci em Copacabana e peguei um táxi, rodei em três hosteis e hospedei-me no Hostel Che Lagarto Copacabana.

Eu recomendo, muito organizado o local. Como eu escolhi um quarto com 6 camas – beliches – paguei R$ 45,00 a diária com café da manhã, mas pelo quarto com 12 camas paga-se uns R$ 35,00 acho.

Fiquei 4 dias, no meu quarto tinha um casal de São Paulo – sim, os quartos são mistos –, um senhor do Rio Grande do Sul e dois holandeses.

Em um dos cafés da manhã conheci um alemão que foi minha companhia nos passeios do Cristo, Corcovado e Bairro de Santa Teresa (conheci o hotel onde a Amy Winehouse se hospedou no Rio).

O hostel oferece umas festas das 20h às 00h com DJ e com cerveja e caipirosca free que custa R$ 40,00 mulher e R$ 45,00 homem.
Como uma caipirosca nos bares da orla custa R$ 15,00; vale muito a pena.

A praia de Copacabana não me chamou tanto a atenção, para mim que vim do nordeste. Mas eu nunca vi uma areia tão branquinha como aquela.


O dia do Cristo estava nublado, mas deu para aproveitar. Obs.: não voltaria, é programa de uma vez só.


Na rocinha, conhecemos uma sala cheia de pinturas. O guia jura que os menores moradores que pintaram. Mas os preços são um absurdo. Filmei alguns e parei quando fui repreendido.

Parece que os cariocas dizem: se os turistas não se impressionarem com nada, mostrar-lhes-ei o pôr-do-sol do alto do Corcovado, e aí não terão saída.
É mágico. Obs.: eu iria de novo e de novo e de novo... 





sábado, 22 de novembro de 2014

Ser louco até que é gostoso

Simplesmente eu não consigo me fixar em emprego algum.
Desde muito jovem foi assim. Pensava que precisava levar a vida a sério e trabalhar com afinco. Nunca participei de grupos e nem fazia “a social” com ninguém.
Era rude para afastar pessoas e não aceitava brincadeiras. Mas é ser louco isso?
Fugi de casa quando peguei o canudo do curso superior na mão. Pensei que em outra cidade, longe de minha família, iria conquistar minha independência financeira e social. Ledo engano.
Tentei emprego em Brasília e fui humilhado pelos donos de uma grande casa de eventos no Lago Norte.
Virei Garoto de Programa, não humilhei ninguém, mas também não fui nenhum santo.
Os anos foram se passando e os trinta chegando. Para GP – Garoto de Programa – com trinta anos já se tem que por coroa nos anúncios. Como não queria ser o titio dos programas, comecei a prestar concurso. Isso já em São Paulo.
No meu primeiro emprego público, em dois anos, ainda no estágio probatório, soltei uma matéria em jornal com uma literatura crítica do tratamento dado aos menores infratores. Resultado: processo administrativo.
Passei em outro concurso, ganhando três vezes mais, e pensei que esse sim era para sempre. Com um ano e meio joguei café na cara de um colega de trabalho e denunciei a corrupção que comia solta no meu setor. Resultado: mais processo administrativo.
É ser louco isso.
Bem, estou de licença médico-psiquiátrica e convicto que estou fazendo algo errado ou certo demais.
Acho mesmo que o convívio em sociedade não é para mim. Sim, sou ermitão. Mas também sou um ser humano e preciso comer, morar, me vestir, passear...
Não sei o que farei. Só sei que uma coisa é certa: será sempre assim. Eu não posso me livrar de mim.
Estou em casa lendo e escrevendo e me recuso a tomar esses remédios que me tornariam igual aos que eu repudio.
Acho que vou tentar me aposentar por problemas psiquiátricos. Aim sim isso valerá para alguma coisa.

No fim: ser louco até que é gostoso.

Eu queria ser um vampiro

Sim, imagine não ter pressa, pois temos a eternidade.
Não ter que fazer tudo em 80 anos, e sim em 200, 300, 500...
Assistir in loco a toda decadência da humanidade.

Conheci a loja Comix Book Shop, na Alameda Jaú, próximo à Av. Paulista. A loja é um verdadeiro sonho para os amantes de quadrinhos.
Comprei dois livros, pois a exclusividade faz os preços progredirem astronomicamente.
O segundo andar da loja é cheio de números antigos de quadrinhos.
Eu recomendo.









Estou lendo hoje o Clube do Vampiro: Morra agora, viva para sempre.


Olha como o Vampiro Padre, Leto, é bonito.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

BALADA DO LOUCO

TÁ CONFIRMADO: SOU LOUCO II

E aí, pessoas.
Tive que retornar ao psiquiatra para pegar um laudo e verificar se estaria apto ao trabalho ou prorrogaria a licença.

Depois de 15 dias em casa, é claro que estou bem melhor: mais calmo, menos ansioso e até senti falta do emprego algumas raras vezes. Contudo, preferi pedir mais 30 dias e ver se consigo passar em outro concurso.

Fiquei impressionado com a facilidade do doutor prescrever drogas aleatórias embasado apenas nos meus relatos.

Não cogito tomar nenhuma, mas estou com uma coleção considerável de psicotrópicos.

 Depakene, não tomo porque a bula relata aumento na presença do vírus HIV.


Cloridrato de sertralina, corta os pensamentos negativos e transforma a pessoa num robô.


Diazepam, até esse ele passou. Aí eu pensei: sou louco mesmo, hein.


Estou em casa lendo, escrevendo, estudando – bem menos que o necessário –, e assistindo a toda temporada da série Prison Break. Que série do caralho é esse! muito boa mesmo.

Estou me apaixonando pelo Michael Scofield, personagem do ator Wentworth Miller, e ainda mais agora que parece que ele curte também.











terça-feira, 18 de novembro de 2014

Tá confirmado: SOU LOUCO.

Então pessoal, lembram que falei que estou respondendo processo administrativo por agressão no local de trabalho? Pois é: tava uma pilha de nervos e meu chefe achou melhor transferir a mim e ao outro envolvido.

Achei um absurdo essa atitude, não posso entrar em detalhes aqui, mas achei covarde essa decisão. Não concordei, entrei com um pedido de esclarecimento via petição ao prefeito e estou esperando resposta.
Nem consegui ficar no outro local. No segundo dia me deu uma crise de choro e tive que ir embora. Não voltei mais. Com medo de perder o emprego, marquei um psiquiatra e relatei todo o fato:

  • Agressividade;
  • Desconforto em conviver socialmente;
  • Mania de perseguição;
  • Pensamentos suicidas;
  • Pensamentos de vingança - inclusive já pensei em entrar no trabalho e atirar em todo mundo.

Ele me diagnosticou como psicótico, além de outras patologias.
Peguei 15 dias de licença e 2 medicamentos.
Não tomei os medicamentos até o fim, achei-os inibidores de criatividade e realmente eu gosto de ser diferente, não me arrependo de ter batido naquele cara – ele vivia me provocando e brincando com o fato de eu ser nordestino.
O que mais me incomodou na ação dos medicamentos foi a perca da tristeza. É como uma felicidade artificial, eu sentia os pensamentos ruins sendo bloqueados em minha mente. Não tomei mais os medicamentos e estou em casa de licença estudando para novos concursos.

O CID no encaminhamento para um psicólogo foi o F32.
Os medicamentos foram:

Cloridrato de Sertralina e Depakene.






Leio todos os comentários. Se não publico alguns, é por conter contatos.
Grande abraço a todos!!!