domingo, 10 de maio de 2015

Preconceito Latente

Queria compartilhar um ocorrido com vocês e saber suas opiniões.

Fui transferido para outro setor e chegando lá tive aquela semana de adaptação onde se ficam todos com o à trás observando, inclusive eu.
Teve um rapaz que tem um cargo de confiança do diretor que assim que me viu pela primeira vez, soltou: _ Esse sim é um afrodescendente de respeito, não igual ao que temos aqui. E apontou para outro rapaz negro que riu, assim como eu ri.

O que pareceu ser um quebra-gelo, foi se aprimorando e acrescido de ódio disfarçado de brincadeira.

Todas as vezes que esse rapaz me via soltava uma piada:
_ E aí negão;
_ Eu sou racista, viu;
_ Você está pensando que está falando com alguém da sua raça;
_Você está sentado na mesa errada negão.

Ele fazia isso sério e na frente de todos, inclusive de outros funcionários da raça negra. O que me despertou que aquilo não era brincadeira é porque quando ele pegava pesado, sempre me ligava de forma educada e me chamando pelo nome, como que para soprar depois do tapa.

Um dia eu não aguentei e, temendo perder o controle e razão, o chamei bem educadamente para sala de reunião e pedi permissão para gravar a conversa, ele se assustou e disse que não, eu disse que gravaria do mesmo jeito e que ele poderia sair da sala se quisesse, como ele não saiu comecei a falar.

Eu: _ Olha, eu estou me sentindo incomodado com suas brincadeiras a respeito de raça. E não é só por mim. Quando você faz isso, não olha para os lados e nem vê que o pessoal da limpeza, o da cozinha, e motoristas, estão todos por perto e como eu tenho um cargo equivalente ao seu e sei que eles nunca viriam aqui para falar com você, eu me sinto na obrigação de fazer isso.

Ele:_ Eu sei. A gente brinca com quem dá abertura, mas se você não quer eu não brinco mais. Só acho que não deveria chegar a esse pinto de você me chamar aqui e gravar. (levantou-se e já ia saindo da sala)

Eu: _ Só um minuto que eu ainda não acabei de falar.

(ele se assustou com a assertividade do meu tom e voltou)

Eu:_ Essa é a última vez que estou falando com você sobre isso, da próxima abrirei um boletim de ocorrência e entrarei com petição para que seja instaurada uma sindicância.

(ele ficou nervoso, saiu falando alto; mas eu continuei calmo com a voz branda e disse: _ estamos acertados, não é. E dei um sorriso)

Bem, nossa relação agora está naquele fio tênue, mas não vou ficar sendo sistematicamente ofendido e levar tudo na brincadeira para evitar o confronto. Não seria mais fácil que as ofensas fossem evitadas?
Até parece que isso é feito em tom de brincadeira para quando a vítima tomar uma atitude drástica, passe a exercer o papel de agressor.


Não adianta achar tudo um absurdo e tentar mudar leis e cobrar autoridades se no nosso dia a dia, no nosso ciclo de amizade, não conseguimos reverter ou evitar injúrias.  

Um comentário:

  1. É o cúmulo do absurdo que ainda existam pessoas racistas!
    Dessa vez, ainda bem que vc se controlou! Agiu da forma certa, e foi muito inteligente em falar que ia gravar a conversa...

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