sábado, 22 de novembro de 2014

Ser louco até que é gostoso

Simplesmente eu não consigo me fixar em emprego algum.
Desde muito jovem foi assim. Pensava que precisava levar a vida a sério e trabalhar com afinco. Nunca participei de grupos e nem fazia “a social” com ninguém.
Era rude para afastar pessoas e não aceitava brincadeiras. Mas é ser louco isso?
Fugi de casa quando peguei o canudo do curso superior na mão. Pensei que em outra cidade, longe de minha família, iria conquistar minha independência financeira e social. Ledo engano.
Tentei emprego em Brasília e fui humilhado pelos donos de uma grande casa de eventos no Lago Norte.
Virei Garoto de Programa, não humilhei ninguém, mas também não fui nenhum santo.
Os anos foram se passando e os trinta chegando. Para GP – Garoto de Programa – com trinta anos já se tem que por coroa nos anúncios. Como não queria ser o titio dos programas, comecei a prestar concurso. Isso já em São Paulo.
No meu primeiro emprego público, em dois anos, ainda no estágio probatório, soltei uma matéria em jornal com uma literatura crítica do tratamento dado aos menores infratores. Resultado: processo administrativo.
Passei em outro concurso, ganhando três vezes mais, e pensei que esse sim era para sempre. Com um ano e meio joguei café na cara de um colega de trabalho e denunciei a corrupção que comia solta no meu setor. Resultado: mais processo administrativo.
É ser louco isso.
Bem, estou de licença médico-psiquiátrica e convicto que estou fazendo algo errado ou certo demais.
Acho mesmo que o convívio em sociedade não é para mim. Sim, sou ermitão. Mas também sou um ser humano e preciso comer, morar, me vestir, passear...
Não sei o que farei. Só sei que uma coisa é certa: será sempre assim. Eu não posso me livrar de mim.
Estou em casa lendo e escrevendo e me recuso a tomar esses remédios que me tornariam igual aos que eu repudio.
Acho que vou tentar me aposentar por problemas psiquiátricos. Aim sim isso valerá para alguma coisa.

No fim: ser louco até que é gostoso.

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