Simplesmente
eu não consigo me fixar em emprego algum.
Desde
muito jovem foi assim. Pensava que precisava levar a vida a sério e
trabalhar com afinco. Nunca participei de grupos e nem fazia “a
social” com ninguém.
Era
rude para afastar pessoas e não aceitava brincadeiras. Mas é ser
louco isso?
Fugi
de casa quando peguei o canudo do curso superior na mão. Pensei que
em outra cidade, longe de minha família, iria conquistar minha
independência financeira e social. Ledo engano.
Tentei
emprego em Brasília e fui humilhado pelos donos de uma grande casa
de eventos no Lago Norte.
Virei
Garoto de Programa, não humilhei ninguém, mas também não fui
nenhum santo.
Os
anos foram se passando e os trinta chegando. Para GP – Garoto de
Programa – com trinta anos já se tem que por coroa nos anúncios.
Como não queria ser o titio dos programas, comecei a prestar
concurso. Isso já em São Paulo.
No
meu primeiro emprego público, em dois anos, ainda no estágio
probatório, soltei uma matéria em jornal com uma literatura crítica
do tratamento dado aos menores infratores. Resultado: processo
administrativo.
Passei
em outro concurso, ganhando três vezes mais, e pensei que esse sim
era para sempre. Com um ano e meio joguei café na cara de um colega
de trabalho e denunciei a corrupção que comia solta no meu setor.
Resultado: mais processo administrativo.
É
ser louco isso.
Bem,
estou de licença médico-psiquiátrica e convicto que estou fazendo
algo errado ou certo demais.
Acho
mesmo que o convívio em sociedade não é para mim. Sim, sou
ermitão. Mas também sou um ser humano e preciso comer, morar, me
vestir, passear...
Não
sei o que farei. Só sei que uma coisa é certa: será sempre assim.
Eu não posso me livrar de mim.
Estou
em casa lendo e escrevendo e me recuso a tomar esses remédios que me
tornariam igual aos que eu repudio.
Acho
que vou tentar me aposentar por problemas psiquiátricos. Aim sim
isso valerá para alguma coisa.
No
fim: ser louco até que é gostoso.
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